A VIDA COMEÇA QUANDO DECIDIMOS PARAR DE
AGRADAR À PLATEIA
Ruth Borges
“Bravo, Bravíssimo!” — reverencia a
plateia. Aplausos.
As cortinas se fecham. Sem holofotes, o
protagonista se recolhe. Do figurino à cara, à coragem e à maquiagem.
Longe dos palcos, a cabeça tomba no
travesseiro. Percorre os bastidores dos pensamentos a se questionar: “Há quanto tempo estou interpretando o
papel de agradar a todos enquanto me desagrado tanto?”
É certo que a arte imita a vida.
Muitos vivem quase que exclusivamente
para atender às expectativas do
público, seja por uma questão de vaidade, jogo exibicionista, ou porque
acreditam dever constantemente ao outro a condição de servir — sob o custo da
angústia e do desespero diante da anulação da própria existência.
Aquele que faz tudo para agradar a
todos enquanto se desagrada sentirá, cedo ou tarde, o arrombo no peito tomado
por um vazio existencial. O tempo baterá à porta e cobrará com juros e correção
todo desperdício, toda infelicidade
contraída.
Enquanto isso, no palco do exibicionismo… É pirueta, firula,
cambalhota e o que mais for preciso para ser notado. Quanto vale o show? A vida
vira espetáculo: “Olha o que sei fazer”, “Olha pra mim”.
Mal sabe o exibicionista o quanto
repete suas necessidades infantis
acrobáticas pouco nutridas.
Nas coxias, entre atos e cenas de
possuir e exibir: “Quem sou eu mesmo?”, “O que me resta além do que eu
exibo ter?”.
Olha, não há nada mais tranquilizador do que se apresentar
diante das pessoas como se é — com as qualidades
e limitações que todos nós possuímos.
O cenário exuberante esconde a falta de
protagonismo sobre a própria vida. Estamos vivendo para agradar à plateia,
completamente desencaixados do nosso
autêntico papel. Aparentando estar bem, ao passo que nos camarins de nossas
verdades secretas sabemos o drama das horas que gastamos pintando a cara de
palhaço feliz para satisfazer ao outro.
Seria mentira? Seria loucura? Seria
pintura? Seria verdade?
Felicidade é bem individual, ninguém pode fazer esse papel por nós.
Uma hora a gente se cansa de se perder
no caminho entre ser ou não ser.
O abrir das cortinas revela o quanto é
triste ver a vida passar sem que estejamos presentes. Acredito mesmo que
começamos a viver quando decidimos parar de querer agradar à plateia ou, pelo
menos, quando encontramos uma maneira genuína de nos agradar juntos e assumir que talvez não seja tão perigoso
a gente ser feliz.
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